A Verdadeira História da Família Fonseca Galhão

Blogue cacofónico mas não escatológico sobre a mítica história de uma família portuguesa, com certeza.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Embora estivesse a ser raptado, César estava mais estupefacto que amedrontado. Os angolanos do wrestling foram abandonados na primeira estação de serviço depois de Sara se ter irritado com eles em alemão e lhes ter espetado dois fortes pontapés nas partes baixas (a cada um).
- Não me interessam os detalhes da vossa ignorância! Isto não é um diálogo! - desabafou em português.
- Mas o que é que se passou? - perguntou César, com uma insólita vontade de se mostrar conciliador.
- Não te interessa. Levanta a mão onde tens o anel.
Só nesse momento é que César reparou que ainda tinha a mão direita recolhida no interior da manga do casaco. O anel fazia-o sentir-se ligeiramente abichanado e com a ameaça anatómica dos seus anteriores companheiros de banco de trás todo o cuidado era pouco...
- Perfeito! Perfeito! Este é o anel da família Galhão. De três em três gerações nasce um rapaz a quem o anel assenta na perfeição e que terá a capacidade de abrir as portas de Ungielstadt. Só uma mão genuinamente Galhão e com o anel perfeitamente encaixado na falange proximal do terceiro dedo da mão direita é que consegue entrar pela abertura da porta e fazer rodar o trinco. Dizem que quem abrir essas portas dominará o mundo!
"Pronto. Tens o que mereces, César. Quem te mandou andar atrás de irmãs virtuais e acreditar em tretas de drag queens assassinados, forwards de filhos, etc.? Agora estás metido com esta doida, a 200 à hora na auto-estrada e a caminho de uma terra com um nome impronunciável! O que é que te falta acontecer?"
- Ó Sara, mas tens a certeza do que estás a dizer? O meu nome é César Monteiro... aliás, eu há uma semana nem sequer conhecia a Mónica e muito menos tinha ouvido falar nas maluquices dela...!
Em vez de responder à pergunta, Sara tirou o cinto de segurança, fixou César com os olhos e saltou para o banco de trás, sentando-se no lugar imediatamente à sua frente.
Embora estivesse claramente preocupado com a situação, César não pôde deixar de reparar que Sara tinha umas belas pernas, facto que aliás era bem evidenciado pelo escasso comprimento da mini-saia Chanel que as cobria em pequena percentagem. Sem dizer uma palavra e actuando com um total domínio da situação, Sara carregou num botão que simultaneamente fez correr uma cortina preta (separando a zona dos passageiros do motorista) e fez aparecer, vindo de uma porta aparentemente pequena demais para o efeito, uma garrafa de Moet et Chandon num balde de gelo simetricamente ladeado por dois flutes de cristal. Quando o cérebro de César se começava a questionar sobre o que é que aquela imagem lhe estava a lembrar (obviamente, era o anúncio do Ferrero Rocher), Sara sacou de um punhal e, com um movimento rápido e decidido, cortou de uma só vez todos os botões da camisa do atónito último dos Galhões, que passou a exibir uma penugem peitoral de fazer inveja ao Tony Ramos, bem rematada por uma barriguinha de cerveja digna de um português que não deixa os seus créditos por mãos alheias.
No entanto, uma visão que certamente demoveria uma percentagem significativa das mulheres portuguesas solteiras e disponíveis, não teve aparentemente qualquer efeito dissuasor em Sara. Com uma harmonia de movimentos incrível, e movendo o punhal como nem o alter ego de Don Diego de La Vega seria capaz, Sara fez mais dois gestos e, como que por magia, um visivelmente bem disposto César e a fogosa quarentona ficaram frente a frente, tão vestidos como no dia em que Deus os deixou vir ao mundo...