A Verdadeira História da Família Fonseca Galhão

Blogue cacofónico mas não escatológico sobre a mítica história de uma família portuguesa, com certeza.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Todos os dias Mónica seguia o mesmo ritual. O despertador com Pedro Tojal a acordar Portugal. As vizinhas de cima num enorme cagaçal. A mãe do Ivo a berrar com o anormal. Snooze. Pedro Tojal ainda a acordar Portugal. José Sócrates inaugura prateleira de supermercado no Bombarral. O trânsito hoje até nem vai nada mal. Snooze. Pedro Tojal a acordar Portugal. Levanta-te, Mónica ou o teu chefe vai levar a mal. Toma banho senão ficas a cheirar mal. Toma o pequeno almoço: fruta e um iogurte natural. Sim, eu sei que esses sabem mal... (mas não há bons sabores com a rima necessária). Outra vez chuva e um grande vendaval. Se calhar é melhor levar também um Constipal. Dá sono, mas alivia a fossa nasal. O carro tem 100 cavalos e sente-se a força de cada animal. Em 25 minutos chega-se de Coimbra a Pombal.
O encontro com César até foi giro, afinal. Ter um irmão mais novo... eu com trinta anos e ele com vinte e tal... E quem diria que o nosso verdadeiro pai haveria de ter uma morte tão brutal!
A surpresa para Mónica chegara na semana do Natal. Niquinha, olha: tens uma mensagem na tua caixa postal. Ai sim, será Viagra, diplomas universitários ou o Zé Cabral? Não, é de uma tipa chamada Rebeca Fonseca, bestial! Até que enfim que recebo mails de gente normal.
Olá Mónica, não me leves a mal. Não me conheces nem me vou apresentar por via postal. Os relacionamentos comigo têm uma indispensável vertente pessoal. Preciso de te contar algo de fundamental. Se quiseres vou ter a Pombal.
Olá Rebeca, que estranha forma de contacto virtual. Despertaste-me a curiosidade de uma forma visceral. Quero encontrar-me contigo depressa, pois deixaste-me com uma ansiedade monumental. Pode ser amanhã às duas e tal?
No Café Central?
Sim. É o meu local de almoço habitual.
Naquele dia Pedro Tojal só por uma vez acordou Portugal. A mãe do Ivo num silêncio sepulcral. O iogurte foi substituído por uma garrafa de Ucal. Chegou ao trabalho num instante, pois o nervosismo era total. A manhã durou menos que uma missa rezada pelo Cardeal.
Meio-dia, uma, duas, duas e tal. Para o almoço só um prato com pão de cereal. Onde está a Rebeca, afinal?
Na mesa do meio, ovo estrelado com pimenta mas sem sal.
Não pode ser... estarei a bater mal?
Olá Mónica, sou eu a tal.
Rebeca... da conversa virtual?
Sim... Rebeca, la femme fatal. Senta-te... não vamos conversar na vertical.
Olhe que se é para me enganar eu movo-lhe um processo judicial.
Não te preocupes... estás a falar com um antigo general.
Mas... isso é genial! - Nesse momento Mónica sorriu, pois percebeu o que é que Rebeca outrora tinha tido na sua zona genital.
Queres saber porque é que estás aqui e não a trabalhar no hospital?
Sim, já agora não fazia mal... embora para me fazer baldar ao trabalho não seja propriamente necessária uma catástrofe nacional...
Mónica, a tua memória mais antiga é qual?
Não sei... talvez o regresso do Álvaro Cunhal...
Lembras-te de passear em Guimarães pela praça do Toural?
Sim, mas lembro-me mal...
E nesse dia, recordas-te de ter aprendido a tua primeira vogal?
Sim, sim... e de ter ficado toda suja com cal!
Mas quem és tu para saberes de tal?
O meu primeiro nome foi Roberto, um nome banal.
Roberto Rebeca?! Nunca ouvi nada que soasse tão mal!
Não... Rebeca é o meu segundo nome, mas não numa escala ordinal. Rebeca é o meu novo nome e até tem reconhecimento notarial!
Não pode ser... em Portugal não é legal a alteração nominal!
Mónica, fala mais baixo... assim até nos ouvem na Ilha do Ermal!
Ok, mas para isso a minha voz tinha que ter outro potencial...
Mónica.
Sim?
Sou teu pai.

quinta-feira, agosto 17, 2006

- Maurício larga já as bonecas da tua irmã! (Raça do cachopo, que em vez de brincar com carros como qualquer macho que se preze só vê bonecas, ainda se fosse para as despir! Já tem quase vinte anos o raio do petiz).
-Mas Papai, eu gosto de brincar com as bonecas da Teresa. Gosto de lhes vestir umas roupinhas bonitas, pentear seus lindos cabelos e lavar suas carinhas larocas!
- Chiça! Além de gay fala brasileiro. Eu já te digo o que faço com as bonecas da Teresa. Alto lá, quem é a Teresa?
- Papai, eu não sou gay não. Eu quero é mudar de sexo, quero ser gaja, como o senhor Frodo e poder usar anéis em meus belos dedos de fada. A Teresa é o filho do vizinho, que como agora é macho acha que brincar com bonecas é coisa de larilas ou menina. Papai, eu quero mudar de sexo, quero ser como o filha do Néné.
- Nem pensar nisso. Se alguma vez te vieres a chamar Marisa, corto-te a gaita até ficar cheia de foles!
Mal o pai sabia que era mesmo isso que o seu filha queria! Ainda por cima tinha acabado de lhe facilitar a vida, ao escolher um nome feminino. E que bonito nome!
Maurício não cabia em si de contente, e engendrou logo um plano para levar a sua por diante. Telefonou ao seu amigo Teresa (este não quis mudar de nome) e a conversa foi a que a seguir se descreve.
- Oi Teresa tudo bem com você? (Raios, que o gajo não larga o brasileiro!)
- Diz lá o que queres ó paneleiro! Não me vens pedir o dinheiro das bonecas pois não? Já o gastei todo a fumar ganzas (macho que é macho fuma ganzas como quem come bacalhau com grão).
- Não é nada disso cara! O que se pass
- Cara é o caralho! Já sou macho, sou caro!
- Não Teresa, cara é uma expressão brasileira, que é a língua que eu falo agora, enquanto me encontro entre a carne e o peixe! Que bobagem! Quero que você telefone para meu pai e pergunte por Marisa, só isso. Assim ele cortará minha gaita até ficar cheia de foles e facilitará minha operação de mudança de sexo! Eu te pago com favores sexuais, Teresa. Eu chuparei teu gelado de framboesa como se fosse o melhor sorvete do mundo!
- Tudo bem meu!
E assim fez. Os uivos de dor do Maurício foram ouvidos por todos os seus vizinhos, mas no fim a sua cara raiava de alegria. Tinha conseguido que o pai lhe cortasse a gaita até ficar cheia de foles. Meses mais tarde tratou da papelada e deixou de ser Maurício, o larilas que falava brasileiro. Tinha nascido a Marisa, jovem portuguesa de belos seios.

terça-feira, agosto 01, 2006

- Está a saber-me mal este whisky de malte...
- Esta noite estás mesmo frágil!
- Tenho que dar a mão à Palma...tória, Jorge. Não consigo viver com este peso em cima de mim!
César levantou-se, olhou em redor e suspirou...
- Puta de vida e merda de vida... todo o santo dia a trabalhar!
- Já alguma vez te disseram que tens tendência para utilizar excertos de velhos sucessos da música portuguesa no discurso oral?
- Já. E o que é que essa merda adianta para a minha felicidade? Dá-me cá um abalo ao pífaro...!
- Hoje estás impossível de aturar. Vou mas é dar às de Vila Diogo, que a minha vida não é esta. Até amanhã! Vê lá se tens mas é juízo!
Mas o que César definitivamente não tinha era juízo. Ao ver Jorge abandonar o bar fazendo slalon entre os corpos bem desenhados e escaldantes das dançarinas moldavas, procurando ao máximo evitar o contacto com as barrigas proeminentes alojadas no interior das sebentas camisas quadriculadas dos elementos masculinos que compunham a tribo noturna do Ali Babar, César apenas se sentia mais isolado e sobretudo mais obcecado com a notícia que recebera naquela tarde.
- É melhor mudar para cerveja, Jociválter! Ô, Negão! Me arruma aí um chopinho, vai?
- Deixa de frescura, César! Não é por ter um cabelão que nem Tarcísio Meira que eu vou dar bola pra você!
- Ouve lá, ó Jociválter... já te disse que não sou paneleiro, caralho! Dá-me mas é a puta da cerveja, que eu pago essa merda, pá! Foda-se!
- Ui... o bicho já pegou aí para esses lados, não cara? Que foi que se passou hoje? Levou bronca do patrão?
- Nem tu calculas, Jocy, nem tu imaginas... - disse César, utilizando meticulosamente o indicador para remover o excesso de espuma do fino que o barman lhe estendia, limpando depois o dedo à velha T-shirt da Super Bock com a frase "Não deixes para a semana o que podes fazer hoje".
- Sou todo ouvidos, xará.
- Vê lá que esta tarde me ligou lá para o escritório uma gaja de que eu nunca tinha ouvido falar, a dizer que se chamava Mónica Galhão, que era minha meia irmã e que o nosso pai era aquele Drag Queen que tinha morrido ao caír de um carro alegórico na Gay Parade que houve ontem no Porto...
- Ui... mas seu pai não é o Coronel Monteiro? Ele esteve aqui hoje mesmo contratando Tatiana e Eva, como de costume...
- E eu não sei, Jociválter?! Eu disse logo à tipa "minha senhora, deve tratar-se de um equívoco, pois está a falar com César Monteiro, filho de Cesário e Marisa Monteiro e eu não a conheço a si ou a esse senhor que faleceu ontem"!
- E aí?
- E aí ela disse-me que de facto isso era verdade, mas não era TODA a verdade. Contou-me uma história maluca de um tipo chamado Roberto Galhão, que mudou de sexo e de nome para Rebeca Galhão e esqueceu-se do filho bebé na sala de espera da clínica...
- Esqueceu o neném?! Não é possível!
- .... e na mesma sala de espera estavam os meus pais Cesário e Marisa, que naquela altura se chamavam Cesário e Maurício...
- O quê?!
- É isso mesmo, Jociválter: segundo a Mónica, a minha mãe chamou-se Maurício até aos 33 anos e o meu verdadeiro pai chamava-se Rebeca até ontem!
- Mas... e você?
- Ao que parece os dois casais combinaram a troca, pois o Afonso Fonseca, que era o namorado da Rebeca, quer dizer, do Rebeca, também queria mudar de sexo, para deste modo poder constituir um casal lésbico com o Roberto, que entretanto já era Rebeca. Assim, o Cesário Monteiro pagou-lhe a operação em troca da minha custódia, pois eles só tinham dinheiro para sustentar a Mónica!
- E eu pensando que minha vida era complicada... você me dá goleada em complicação familiar, meu irmão!
- E, pior que tudo, a gaja enviou-me faxes com todas as provas: relatórios médicos, testes de DNA e até o contrato assinado entre o Cesário, o Maurício, o Afonso e o Rebeca!!!