A Verdadeira História da Família Fonseca Galhão

Blogue cacofónico mas não escatológico sobre a mítica história de uma família portuguesa, com certeza.

terça-feira, agosto 01, 2006

- Está a saber-me mal este whisky de malte...
- Esta noite estás mesmo frágil!
- Tenho que dar a mão à Palma...tória, Jorge. Não consigo viver com este peso em cima de mim!
César levantou-se, olhou em redor e suspirou...
- Puta de vida e merda de vida... todo o santo dia a trabalhar!
- Já alguma vez te disseram que tens tendência para utilizar excertos de velhos sucessos da música portuguesa no discurso oral?
- Já. E o que é que essa merda adianta para a minha felicidade? Dá-me cá um abalo ao pífaro...!
- Hoje estás impossível de aturar. Vou mas é dar às de Vila Diogo, que a minha vida não é esta. Até amanhã! Vê lá se tens mas é juízo!
Mas o que César definitivamente não tinha era juízo. Ao ver Jorge abandonar o bar fazendo slalon entre os corpos bem desenhados e escaldantes das dançarinas moldavas, procurando ao máximo evitar o contacto com as barrigas proeminentes alojadas no interior das sebentas camisas quadriculadas dos elementos masculinos que compunham a tribo noturna do Ali Babar, César apenas se sentia mais isolado e sobretudo mais obcecado com a notícia que recebera naquela tarde.
- É melhor mudar para cerveja, Jociválter! Ô, Negão! Me arruma aí um chopinho, vai?
- Deixa de frescura, César! Não é por ter um cabelão que nem Tarcísio Meira que eu vou dar bola pra você!
- Ouve lá, ó Jociválter... já te disse que não sou paneleiro, caralho! Dá-me mas é a puta da cerveja, que eu pago essa merda, pá! Foda-se!
- Ui... o bicho já pegou aí para esses lados, não cara? Que foi que se passou hoje? Levou bronca do patrão?
- Nem tu calculas, Jocy, nem tu imaginas... - disse César, utilizando meticulosamente o indicador para remover o excesso de espuma do fino que o barman lhe estendia, limpando depois o dedo à velha T-shirt da Super Bock com a frase "Não deixes para a semana o que podes fazer hoje".
- Sou todo ouvidos, xará.
- Vê lá que esta tarde me ligou lá para o escritório uma gaja de que eu nunca tinha ouvido falar, a dizer que se chamava Mónica Galhão, que era minha meia irmã e que o nosso pai era aquele Drag Queen que tinha morrido ao caír de um carro alegórico na Gay Parade que houve ontem no Porto...
- Ui... mas seu pai não é o Coronel Monteiro? Ele esteve aqui hoje mesmo contratando Tatiana e Eva, como de costume...
- E eu não sei, Jociválter?! Eu disse logo à tipa "minha senhora, deve tratar-se de um equívoco, pois está a falar com César Monteiro, filho de Cesário e Marisa Monteiro e eu não a conheço a si ou a esse senhor que faleceu ontem"!
- E aí?
- E aí ela disse-me que de facto isso era verdade, mas não era TODA a verdade. Contou-me uma história maluca de um tipo chamado Roberto Galhão, que mudou de sexo e de nome para Rebeca Galhão e esqueceu-se do filho bebé na sala de espera da clínica...
- Esqueceu o neném?! Não é possível!
- .... e na mesma sala de espera estavam os meus pais Cesário e Marisa, que naquela altura se chamavam Cesário e Maurício...
- O quê?!
- É isso mesmo, Jociválter: segundo a Mónica, a minha mãe chamou-se Maurício até aos 33 anos e o meu verdadeiro pai chamava-se Rebeca até ontem!
- Mas... e você?
- Ao que parece os dois casais combinaram a troca, pois o Afonso Fonseca, que era o namorado da Rebeca, quer dizer, do Rebeca, também queria mudar de sexo, para deste modo poder constituir um casal lésbico com o Roberto, que entretanto já era Rebeca. Assim, o Cesário Monteiro pagou-lhe a operação em troca da minha custódia, pois eles só tinham dinheiro para sustentar a Mónica!
- E eu pensando que minha vida era complicada... você me dá goleada em complicação familiar, meu irmão!
- E, pior que tudo, a gaja enviou-me faxes com todas as provas: relatórios médicos, testes de DNA e até o contrato assinado entre o Cesário, o Maurício, o Afonso e o Rebeca!!!