A Verdadeira História da Família Fonseca Galhão

Blogue cacofónico mas não escatológico sobre a mítica história de uma família portuguesa, com certeza.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Justina era uma mulher da vida. Ainda hoje lhe doía a tromba do chapadão que tinha levado do Meireles por não lhe dar o dinheiro da noite. Mas ele não percebia que a noite tinha sido pobre pobre em clientes. Ainda se lembra do palito de Meireles quase a vazar-lhe uma vista.
- Dá-me já o dinheiro todo minha cabra!
- Mas Meireles, não percebes que a noite foi pobre pobre em ouro?
- Não me venhas com cantigas! Passa-me para cá o guito!
Como Justina não lhe desse o guito, Meireles prega-lhe um valente chapadão na tromba, chapadão este que a deixou atordoada. Meireles saiu de casa chateado, claro que ficou chateado! Não gostava de bater nas suas putas. Ainda se fosse nas dos outros…
Mas Justina tinha de aprender a lição! Cliente fodido é dinheiro devido!
Justina esfregou a cara com rancor. Era a última vez que Meireles lhe batia. Ainda por cima grávida! Ainda por cima em abstinência! Tinha de arranjar uma dose, e depois disso, Meireles ia ver.
“Encontrado cadáver de cidadão (também conhecido por Meireles) na rua! A vítima vestia sapatos pretos de fivela, meia branca e tinha um palito a pender dos lábios roxos quase a roçar uma poça de vómito, que se pensa ter sido responsável pela asfixia.”. Este foi o título do jornal do dia seguinte. Justina leu e meditou. Alguém tinha morto Meireles (nem que fosse o senhor).
“Quem, eu?”, perguntou o senhor Silva, o dono da pensão.
Não, Ele (apontando com o dedo para cima).
Vou ter de arranjar outro pai para o puto, Justina pensou.

sábado, setembro 09, 2006

- Pois é, pois é, pois é...
- Qual é o contrário de vaca?
- Não sei... boi?
- Claro que não! O contrário de vaca é porco!
- Não sei... é que o contrário de porco é limpo e limpo não é o mesmo que vaca!
- Mas tu certamente que já viste vacas porcas... é que nos verdes prados de algumas aldeias nem sempre a higiene é a melhor... especialmente quando há ETARs a distâncias percorríveis de camião!
- Pois é... se calhar tens razão!
- Bruxo...!
- Olha, mudando de assunto... e a cena do César? O que é que se passa com ele? O gajo anda completamente desatinado... vê lá tu que ontem ele afirmou a pés juntos que todos os marinheiros usavam barbas e cabelo branco devido ao intenso reflexo da espuma marítima nos seus faneros fácio-craniais!!!
- Fácio-craniais?! O moço está mesmo apanhado dos carretos!
- Mas afinal o que é que se passa com ele? Conta-me a história como se fosses o Miguel Esteves Cardoso.
- Ok. Vou tentar:
O amor é fodido. A sério. Aliás, o amor é sério e é fodido. Mesmo quando se fode a sério. Ou, pior, quando se é fodido seriamente.
Mas pior que ser filho de dois paneleiros é não ser filho de dois paneleiros, nem sequer dos outros dois que lhes forwardaram a criança. É como se o Pauleta isolado em frente a uma baliza vazia decidisse atrasar a bola para o Nuno Gomes, que por sua vez também se consegue isolar em frente à mesma baliza vazia depois de fintar o guarda-redes e 6 defesas e em vez de rematar à baliza decide passar a bola para o Ricardo Costa que, envergonhado por estar na selecção e ninguém o conhecer, chuta a bola para a bancada.
A mãe biológica do César tinha 23 anos e andava agarrada ao cavalo desde os 13. Aliás, andava tão agarradinha que o seu traseiro até parecia uma sela. O pai biológico do César usava meinha branca com calcinha cinzenta de flanela vincada, palito na boca, esferográfica Bic atrás da orelha, hálito a cápsulas Rogoff, maço de Português Suave em riste e uma unha do dedo mindinho que faria inveja a qualquer benfiquista. É por isso que o amor é fodido. Quem haveria de dizer que uma jovem amazona haveria de se tornar toxicodependente por não conseguir suportar o hálito do seu amante?

sexta-feira, setembro 01, 2006

“Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!”
A telefonia daquele hospital não se calava. Afonso e Rebeca tinham acabado de adoptar duas crianças filhas de um toxicodependente. Sim, adoptar! Infelizmente este casal não podia ter filhos naturalmente, Rebeca fora outrora um homem.
“Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!”
Rásparta a telefonia, não há maneira de a desligar? Rebeca chorava que nem uma Madalena. Tinham adoptado duas crianças lindíssimas, mas não tinham dinheiro para as sustentar. Tinham de optar por uma delas. A outra seria deixada à sua sorte.
“Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!”
Na mesma clínica um casal de paneleiros chorava abraçado. Não podiam ter filhos naturalmente (que novidade, só se fossem cagalhões!).
- Não chora não Cesário, dizia Maurício. A gente há-de conseguir ter filho.
- Não percebes Maurício, futura Marisa, eu não posso engravidar!
- Não tem problema não, a gente adopta um aí! Olha lá aquele casal! A moça está chorando! Vamos até lá perguntar o que se passa.
“Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!”
- Que tem você meu bem? Inquiriu Maurício. Porque você está chorando?
- Acabamos de adoptar duas crianças, mas só agora nos lembrámos que não temos dinheiro para sustentar as duas!
Os olhos de Maurício e Cesário brilharam com cumplicidade (os deste último devido às lágrimas). Problema que eles não tinham era dinheiro.
- Chora não meu bem, a gente pode resolver seu problema. Quanto é que você quer pelo garoto?
“Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental!” A música não parava de tocar na telefonia. Devia ser um disco riscado.
Rebeca limpou as lágrimas, teriam de se contentar com a garota (as duas crianças eram de sexos diferentes…). Assim poderiam dar uma boa vida a Mónica. César passaria então a ser filho de Maurício, futura Marisa, e Cesário, futuro Cesário.